Saúde pública no Brasil ainda sofre com recursos
insuficientes 08/01/2015
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Gestão e financiamento são alguns dos principais
problemas do SUS, segundo especialistas; proposta de iniciativa popular em
tramitação na Câmara destina pelo menos 10% das receitas correntes brutas para
a saúde, o que teria representado R$ 41 bilhões a mais em 2014.
Saúde é
uma das principais preocupações do brasileiro e também um dos maiores desafios
dos governantes que assumiram em 1º de janeiro. Em um levantamento do Ministério
da Saúde para atestar a qualidade do Sistema Único de Saúde (SUS), a média
nacional ficou em 5,5, em uma escala de 0 a 10.
O sistema
de saúde pública que tem a pretensão de atender a todos os brasileiros, sem
distinção, apresenta falhas em seus principais programas. Um exemplo é o Saúde
da Família, que tem o objetivo de atuar na prevenção de doenças, alterando um
modelo de saúde centrado nos hospitais.
Em 20
anos, no entanto, nenhum estado alcançou cobertura completa. Apenas dois
ultrapassaram os 90% de cobertura: Piauí e Paraíba. Na outra ponta, sete
estados têm atendimento abaixo da metade: Amazonas, Rio de Janeiro, Paraná,
Roraima, Rio Grande do Sul, São Paulo e Distrito Federal, com 20%.
A
consequência dessa e de outras falhas são hospitais lotados. Dados do Tribunal
de Contas da União (TCU) indicam que 64% dos hospitais estão sempre com
superlotação. Apenas 6% nunca estão cheios.
Outro
problema nacional é a mão de obra. Não só faltam médicos no interior, mas
também estrutura para o atendimento e oportunidades para a capacitação dos
profissionais. A formação dos médicos também é questionada.
“Os
centros de formação formam profissionais para o mercado de saúde. O SUS é uma
política pública de Estado, não é mercado. A saúde no SUS é vista como direito
social, enquanto que no mercado é vista como mercadoria”, observa o consultor
legislativo Geraldo Lucchese.
Financiamento
O financiamento do SUS é um dos problemas a serem resolvidos. Apesar da promessa de atender a todos, o Brasil é um dos países que menos investe em saúde: menos de 490 dólares por habitante em 2012. “Não podemos manter o Sistema Único de Saúde com a missão para a qual ele foi criado com esse volume de recursos”, avalia a presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, Ana Maria Costa.
O financiamento do SUS é um dos problemas a serem resolvidos. Apesar da promessa de atender a todos, o Brasil é um dos países que menos investe em saúde: menos de 490 dólares por habitante em 2012. “Não podemos manter o Sistema Único de Saúde com a missão para a qual ele foi criado com esse volume de recursos”, avalia a presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, Ana Maria Costa.
Referências
como o Canadá ou a Inglaterra investiram, respectivamente, mais de 4 mil
dólares e mais de 3 mil dólares por habitante no ano. Entre os países da
América do Sul, a Argentina investe quase 700 dólares por pessoa e o Chile,
quase 550.
Em 2000,
a Emenda Constitucional 29 determinou que os municípios investissem
em saúde pelo menos 15% do que arrecadam, e os estados, 12%. Já o governo
federal deve investir, pelo menos, o mesmo valor do ano anterior reajustado
pela inflação. Apesar de garantir investimentos mínimos, a regra não estimula o
governo federal a fazer muito mais do que isso.
Na
tentativa de mudar a reserva de recursos, tramita na Câmara uma proposta de
iniciativa popular (Projeto de Lei Complementar 321/13). Chamada de “Saúde+10”, a proposta prevê a
destinação, pelo governo, de pelo menos 10% das receitas correntes brutas para
a saúde. Em 2014, poderiam ter sido R$ 41 bilhões a mais.
Por outro
lado, o governo federal avisa que só será possível chegar a valores desejados
com um imposto específico para o setor, papel que no passado coube à Contribuição
Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), extinta em 2007.
Para
especialistas, no entanto, o problema da saúde no Brasil não é apenas de
financiamento, mas também de gestão dos recursos. “Não há gestão qualificada.
Há fraude, há corrupção. Isso precisa ser resolvido e se resolve com um
gerenciamento competente e também com um financiamento adequado”, defende o
médico Roberto Luiz d’Ávila, ex-presidente do Conselho Federal de Medicina
(CFM).
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